
Uma freira italiana foi morta em um ataque a uma missão católica no nordeste de Moçambique que é atormentada pela violência jihadista há quase cinco anos, disse sua congregação na quarta-feira.
A Irmã Maria De Coppi foi morta por "terroristas" que atacaram a missão Chipene na noite de terça-feira, disseram as Irmãs Missionárias Combonianas em comunicado.
A missão está sediada na diocese de Nacala, cidade portuária de uma província nordestina vizinha de Cabo Delgado, epicentro da violência jihadista no país.
Os agressores “destruíram e incendiaram a igreja, os aposentos das irmãs, o hospital e os carros da missão”, acrescentaram os líderes religiosos.
Duas outras freiras, uma italiana e uma espanhola, "conseguiram fugir e se esconder na floresta" com um grupo de meninas.
Uma vida de serviço aos outros em Moçambique
Irmã Maria De Coppi, 83 anos, trabalhava em Moçambique desde 1963. Em 2021, em entrevista a um semanário italiano, A Ação, Irmã Maria testemunhou de sua vida como missionária em Moçambique.
Depois de 59 anos no país, ela confidenciou que se sentia parte "desta terra e desse povo no meio do qual" viveu sua vida.
Se evocou dois anos muito duros entre "uma guerra por campos de gás", "um ciclone", "seca" e "pobreza extrema", disse também que as pessoas "não perderam a esperança". “Eu tento ficar perto deles ouvindo o que eles me dizem. Apesar da pobreza material, ouvir os outros continua a ser um grande dom, é reconhecer a sua dignidade”, sublinhou.
No Twitter, Paolo De Coppi, que se descreve como próximo da freira, presta homenagem a uma mulher que dedicou sua vida a cuidar dos mais pobres. Ele acrescenta que foi ela quem o inspirou a se tornar um médico.
Notícia muito triste. Após 58 serviços em Moçambique, um parente próximo foi morto. Ela dedicou sua vida aos mais pobres e certamente foi uma inspiração para eu decidir ser médica. Adeus Suor Maria e obrigado! RASGAR https://t.co/sUEcmCq8a8 pic.twitter.com/Ev60dE2ngq
— Paolo De Coppi (@paolodecoppi) 7 de Setembro de 2022
A missão abrigou pessoas que fugiram de suas casas devido a ataques jihadistas no país.
A violência já matou quase 4.000 mil pessoas desde outubro de 2017, segundo a ONG Acled, que coleta dados em zonas de conflito, e provocou a fuga de 820.000 mil pessoas.
A província nortenha de Cabo Delgado, fronteiriça com a Tanzânia e rica em gás natural, é a única parte de Moçambique com maioria muçulmana, e também uma das regiões mais carentes de um dos países mais pobres do mundo.
Após um grande ataque em 2021 na cidade de Palma, que obrigou a gigante francesa de energia TotalEnergies a suspender um projeto de gás natural de 16,5 bilhões de euros, a violência experimentou uma relativa calmaria.
Mas os ataques esporádicos continuaram nos últimos meses, afetando várias das províncias vizinhas de Cabo Delgado.
Mais de 3.100 soldados de vários países africanos estão destacados há mais de um ano na região em apoio ao exército moçambicano.
Camille Westphal Perrier (com AFP)