
A possível presença de Emmanuel Macron na missa do Papa Francisco, no final de setembro, em Marselha, provocou na quarta-feira o início de polémica em França, onde a oposição de esquerda o acusou de “pisar” no princípio da neutralidade religiosa do Estado.
Segundo o diário católico francês La Croix, o chefe de Estado assistirá à missa que o papa celebrará no dia 23 de setembro em Marselha, no sudeste de França.
Esta seria a primeira vez para um presidente francês em várias décadas, num país governado por uma lei de 1905 que separa a Igreja do Estado e ligada ao princípio do secularismo, que proíbe certas expressões de fé religiosa do espaço público.
Questionados na quarta-feira pela AFP, os serviços presidenciais não negaram a informação, apenas garantiram que “nada (foi) decidido”.
Com base em informações de La Croix, deputados do La France Insoumise, o principal partido da oposição à esquerda, estimaram que a presença de Macron nesta missa seria “um erro”.
"Respeito a fé e os fiéis. Mas discordo do facto de um governante eleito, e em particular o Presidente da República, participar numa cerimónia religiosa na sua qualidade", indignou-se no X (ex-Twitter) o deputado Alexis Corbière.
O seu colega Bastien Lachaud estimou que Emmanuel Macron “zomba do secularismo e atropela os seus princípios, a separação entre Igrejas e Estado, a neutralidade do Estado face às religiões”, embora o seu governo, em nome destas mesmas princípios, proibiu o abaya, uma vestimenta tradicional usada pelas mulheres muçulmanas, nas escolas.
Também deputada da LFI, Danièle Obono criticou o respeito de Macron pelo soberano pontífice, afirmando em particular que a análise de um projeto de lei sobre o fim da vida foi adiada para não interferir na visita papal.
“É recuar um projeto de lei para não correr o risco de ofender o chefe da Igreja Católica, é ir para a missa do pontífice... Ah, já não há secularismo que se aguente, de repente?”, ironizou o deputado.
A missa presidida por François, em visita a Marselha para tratar da questão migratória nos dias 22 e 23 de setembro, será realizada no estádio Vélodrome, com capacidade para 60.000 lugares. O Papa repetiu este verão que ia “para Marselha, não para França”, lembrando que não se tratava de uma visita de Estado.
O Conselho Editorial (com AFP)