Padre Matthieu, padre francês em missão eletrônica

Padre Matthieu, padre francês em missão eletrônica

Homossexualidade "não é pecado", como "condenar" o aborto?, uma pessoa trans "continua sendo filha de Deus"... Matthieu Jasseron, um padre iconoclasta do interior francês, invadiu as redes sociais com uma "missão": responder" sem julgar todas as questões", mesmo que isso signifique passar por "herege".

A sua paróquia de Joigny (centro), na Borgonha profunda, tem apenas 18.000 habitantes, mas “fiel”, tem 1,2 milhões na rede TikTok, onde os seus milhares de vídeos foram “curtidos” 31,5 milhões de vezes.

O padre 2.0 sacode ali a doutrina cristã, respondendo sem tabu as perguntas de suas ovelhas mais perdidas.

A um transgênero que se diz condenado ao ostracismo em sua paróquia, ele responde: “não deveria existir rejeitar alguém por sua orientação. Você sempre será filho de Deus”.

A esta mulher que lhe pergunta se o aborto é um "inferno direto", ele responde: "Estamos aqui para condenar?".

E à pergunta "Ser gay, ainda somos cristãos?", afirma: "em nenhum lugar está marcado que é pecado", contrapondo "todos os homossexuais reprimidos que se escondem atrás da religião" uma citação do Papa Francisco: "se um gay busca a Deus e mostra boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?”.

A reação não tarda: a Conferência dos Bispos da França (CEF) diz que "reprova alguns desses vídeos que distorcem a mensagem da Igreja".

“Entendo que poderia ter ofendido: é a força do meu discurso”, declara à AFP o áspero padre da Igreja, em seu presbitério da grande pacata cidade de Joigny.

É aqui, num sóbrio escritório onde ícones piedosos convivem com um candelabro judaico e um Buda, que o sacerdote digital monta o seu atelier artesanal - um holofote e um tripé para segurar o telefone - e filma-se a sacudir o catecismo.

“Ensinamos aos nossos 70, 80 anos uma tradição binária: sim, não, não podemos”.

“Mas evoluímos”, justifica o inflamado padre, cujos 38 anos contrastam com a idade média dos seus pares (67). Ordenado há menos de quatro anos, o padre também não tem uma formação clássica: “Fui alimentado por valores cristãos mesmo que só íamos à missa uma vez por ano”, diz, com um sorriso mais diabólico do que diabólico.

"Netflix da Fé"

Após a escola de negócios, o suburbano parisiense ingressou em uma empresa de gestão de fortunas. "Era um trabalho confortável, mas eu não estava feliz".

Partiu então para recarregar as energias no campo, no Yonne, e conheceu os irmãos de Saint-Jean, que responderam à sua "busca de sentido".

Aos 24 anos, entrou no seminário e depois tornou-se padre. Não vai vestir a batina, porém, preferindo ficar com o tênis-calça e a língua domada, que já quase o expulsaram do seminário.

Quando ocorre o confinamento, ele vê no TikTok uma forma de manter contato com seus paroquianos.

Nos primeiros vídeos, na primavera de 2020, o “padre do TikTok” multiplica filmes engraçados e de boa vontade provocativos, como aquele em que interpreta o DJ com um cálice no altar da sua igreja.

Os mais conservadores tratam-no como um "herege" mas os "likes" multiplicam-se como pão quente a cada "tikthomelia", tal como as questões que atormentam muitos crentes.

“Queria responder, mas sem julgar, e sair da lógica do proibido-permissão”, defende à AFP.

Em 21 de fevereiro, o clérigo lançou o theostream.com, que ele chama de “Netflix da fé”.

A plataforma quer reunir vídeos cristãos veiculados no YouTube (católicos, ortodoxos e protestantes). Cinquenta temas foram selecionados, incluindo "sexualidade" que inclui homossexualidade, contracepção, identidade de gênero...

"Não aprendemos mais com os livros. Hoje, é o YouTube e o TikTok. Estou levando", explica o padre Matthieu.

Bela vingança: Theostream recebeu o imprimatur da Conferência dos Bispos, que no passado havia dado palestras ao padre por seus vídeos sobre homossexualidade.

"A Igreja está tentando levar o digital para o vôo. Até os padres de 65 anos estão entrando no TikTok, é super legal", diz ele, sem ressentimento.

O Conselho Editorial (com AFP)

Crédito da imagem: AFP/Arnaud Finistre

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