
As florestas do mundo estão diminuindo a cada ano. E o Brasil é o epicentro do fenômeno. De acordo com World Wildlife Fund, mais de um quarto da floresta amazônica estará sem árvores até 2030 se o vitesse em que caem é mantida.
Se nada acontecer, estima-se mesmo que 40% desta floresta único no mundo será arrasado até 2050.
Além das consequências materiais e ambientais, esse desmatamento ameaça certos direitos humanos, incluindo o direito à vida, integridade física, qualidade de vida razoável e dignidade das comunidades marginalizadas. O Brasil é um dos casos mais preocupantes nesse sentido.
Doutorando em ciência política, meus interesses de pesquisa se concentram em justiça climática, transição energética, economia verde e políticas ambientais internacionais.
Texas Chainsaw Massacre
artigo 25 do Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2007) decidiu que essas comunidades possuem plenamente o “… direito de manter e fortalecer sua relação diferenciada com suas terras, territórios, águas e mares costeiros e outros recursos que lhes pertencem ou que tradicionalmente tenham ocupado e utilizado…”.
Este artigo não é respeitado pelo Estado brasileiro na Amazônia.

(ShutterStock)
Embora o país estivesse comprometido em reduzir significativamente o desmatamento e limitar o corte raso a 3 km2, dados da Human Rights Watch, uma organização internacional de direitos humanos, mostram que as motosserras arrasou quase 13 km² de florestas tropicais virgens, tornando as comunidades indígenas ainda mais vulneráveis.
A taxa de desmatamento nos territórios onde essas comunidades vivem aumentou em 34% entre 2018 e 2019, apesar do compromisso do país em 2009 de reduzi-lo em 80%. Isso leva a deslocamentos forçados ao longo de centenas de quilômetros, grandes problemas de saúde e perda de rolamentos. De acordo com a Human Rights Watch, estes estão perto de 13 km² de mata virgem região amazônica que foram derrubadas entre agosto de 2020 e julho de 2021, um aumento de 22% na área de derrubada em relação ao mesmo período do ano anterior.
Cela coincide com a ascensão ao poder de Jair Bolsonaro. Apenas para o mês de janeiro de 2022, registramos a destruição de 430 km2 de floresta tropical, área cinco vezes maior do que em janeiro de 2021.
Ameaças e assassinatos
Vários abusos foram registrados desde o início da colonização, incluindo a invasão ilegal do estado brasileiro em territórios oficialmente indígenas. Mas sob o atual presidente Bolsonaro, multiplicaram-se as redes criminosas que acentuam o desmatamento da Amazônia. O crime organizado vê as grandes indústrias madeireiras e agrícolas como oportunidades para movimentar e lavar dinheiro. Ele explora ilegalmente terras florestais e depois esconde droga nos embarques de madeira para a Europa ou Ásia.
Especialistas chamam isso “narcodeflorestamento” esse fenômeno ilegal. Muitos locais ilegais de mineração de ouro e minerais também operam na Amazônia, e as empresas que os administram muitas vezes ameaçam a comunidade indígena. Munduruku quem mora ali.
Em toda a Amazônia, pessoas e ativistas resistindo a esses cortes são ameaçados, perseguidos e muitas vezes mortos. Em 2019, a ONG Global Witness registrou 24 mortes de defensores ambientais e territoriais, quase todos ocorridos na Amazônia. O Brasil encontra-se assim na terceira posição entre os países mais letais no que diz respeito aos defensores do meio ambiente, após a Colômbia e Filipinas.
A notícia nos lembra disso: O defensor dos direitos ambientais e indígenas Bruno Araujo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips estão desaparecidos desde 5 de junho na Amazônia em uma região notória "sem fé ou lei". Eles haviam recebido ameaças de morte pouco antes, segundo a organização local que os procurou. A polícia brasileira disse no domingo que as equipes de busca descobriram seus pertences pessoais e segunda-feira, que corpos foram vistos na área de seu desaparecimento. No entanto, eles ainda não foram identificados formalmente.

(Foto AP/Edmar Barros)
Além disso, o número de mortes atribuíveis à defesa do meio ambiente e do território pode estar muito subestimado, uma vez que os dados não estão disponíveis e são transparentes para todos os países.
Mulheres e crianças, as principais vítimas do desmatamento
Un Relatório das Nações Unidas (ONU) revela que existe uma forte correlação entre o agravamento das mudanças climáticas e a deterioração dos direitos humanos em todo o mundo.
O desmatamento afeta desproporcionalmente comunidades indígenas, especialmente crianças e mulheres. Aumenta a pressão que já recai em grande parte sobre os ombros das mulheres para alimentar seus filhos e famílias, limitando o acesso a produtos essenciais, incluindo medicamentos.
De fato, sua saúde depende do acesso a medicamentos naturais encontrados na biodiversidade. A Amazônia é um grande reservatório de substâncias utilizadas na fabricação de diversos produtos farmacêuticos disponíveis no continente sul-americano. Ainda hoje, quase 80% da população os países em desenvolvimento dependem de produtos naturais medicinais para seus cuidados básicos primários. Na maioria das comunidades, as mulheres também são responsáveis pelo cultivo da terra e pelo transporte e tratamento da água.

(Foto AP/Edmar Barros)
As crianças estão igualmente em risco. Por exemplo, um estudo realizado em países da África Subsaariana mostra uma ligação entre a perda de cobertura florestal e a deterioração das condições de saúde dos mais jovens. A desnutrição, causada pela disponibilidade reduzida de frutas, vegetais e nozes, pode afetar o crescimento das crianças. A exposição das crianças ao fumo múltiplos incêndios florestais na Amazônia também podem causar problemas respiratórios e patologias ainda mais graves em crianças.
Quanto mais cultivamos, mais árvores cortamos
O desmatamento no Brasil oferece uma amostra do impacto que as mudanças climáticas terão sobre os direitos humanos, tanto na América Latina quanto em outras partes do mundo. Além disso, devido à guerra na Ucrânia, o maior país da América do Sul tem compensar a falta de recursos alimentares nos mercados mundiais, como trigo e grãos.
Embora o contribuição do Brasil ser apreciado pelos países mais afetados pela crise alimentar resultante do conflito na Ucrânia, como o Sudão, Paquistão e Haiti, o aumento da produção corre o risco de acelerar perigosamente o desmatamento e pode-se esperar um aumento nas violações dos direitos humanos.
Uma coisa é certa, um dos pulmões do nosso planeta está gravemente doente e o tempo está se esgotando.
Felix Bherer-Magnan, doutorando em ciência política, Université Laval
Este artigo foi republicado a partir de A Conversação sob licença Creative Commons. Leia oartigo original.