
A conservadora Suprema Corte dos Estados Unidos pareceu sensível na terça-feira aos argumentos de um carteiro cristão infeliz por ter que trabalhar aos domingos, citando sua fé, enquanto relutava em impor restrições muito fortes às empresas, mesmo para a religião.
A alta corte, muito preocupada com as liberdades religiosas desde sua remodelação por Donald Trump, está estudando o caso de Gerald Groff, um cristão evangélico que começou a trabalhar nos correios em 2012.
Na sequência de um contrato entre a La Poste e a Amazon, o seu centro de triagem teve de abrir aos domingos para processar as encomendas do gigante da distribuição. Apresentando suas convicções religiosas, ele havia pedido providências para não trabalhar no 7º dia da semana.
Seu empregador tentou satisfazê-lo transferindo-o para outro centro e encontrando colegas para garantir seu plantão dominical, mas Gerald Groff acabou sendo punido por abandonar o cargo. Em 2019, ele pediu demissão e apresentou queixa por discriminação religiosa.
Depois de perder na primeira instância e na apelação, ele recorreu ao Supremo Tribunal Federal. Durante a audiência na terça-feira, os juízes se concentraram em um precedente de 46 anos, fortemente criticado por defensores da liberdade religiosa.
Em 1977, em um julgamento relativo a um funcionário de uma companhia aérea que não queria trabalhar aos sábados, a Suprema Corte decidiu que os acordos previstos em lei não deveriam "infligir mais do que um custo mínimo" aos empregadores. Ele "permite que as empresas evitem ajustes na maioria dos casos", observa o professor de direito Joshua McDaniel no site da Universidade de Harvard. Este julgamento viola o princípio de que "os funcionários não devem ter que escolher entre sua fé e seu trabalho", argumentou o advogado do carteiro, Aaron Streett. Uma lei federal de 1964, alterada em 1972, proíbe a discriminação religiosa no local de trabalho e exige que os empregadores busquem acomodações para acomodar as crenças de seus funcionários, desde que não represente um "ônus indevido" em suas operações.
Com este caso, o tribunal superior pode ampliar o lugar da religião na esfera profissional, após decisões explosivas sobre armas ou aborto nos últimos meses.
Direito de "prosperar"
Mas alguns dos juízes conservadores pareciam preocupados com as possíveis consequências para as empresas. A lei deve respeitar um "equilíbrio entre dois valores importantes: a liberdade religiosa e o direito das empresas americanas de prosperar", afirmou Brett Kavanaugh.
Elizabeth Prelogar, que defendeu o governo Biden, pediu aos juízes que não revertessem a decisão de 1977. Na prática, os tribunais "exigem regularmente que os empregadores ofereçam horários de trabalho flexíveis" aos funcionários para atender à sua religião, disse ela.
Juízes conservadores da Suprema Corte compararam essa questão à situação dos trabalhadores com deficiência. Se, para eles, as empresas devem se adaptar custe o que custar, a mesma regra não deveria valer para a religião?
A Suprema Corte não parecia se inclinar claramente para um lado ou para o outro. Ela tem até 30 de junho para tomar sua decisão.
Equipe editorial da AFP