Exclusão do deputado do RN: o que diz a pesquisa em economia comportamental sobre sanções

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Em seu show de 2018, Humanidade, o comediante britânico Ricky Gervais evoca a indignação que algumas pessoas podem sentir quando confundem "a substância da piada com o verdadeiro alvo". Esta passagem cômica parece antecipar uma explicação do événements que levou, em 4 de novembro, a a exclusão por 15 dias do deputado du Rali Nacional (RN), Grégoire de Fournas, por comentários racistas.

Esta exclusão constitui um sanção chamado de "altruísta", que visa acalmar um estado emocional negativo, de um "carona" que recusa as regras de respeito no bem comum democrático. No entanto, é importante explicar que ocorre em um contexto de ambiguidade que corre o risco de ter um efeito contraproducente.

De fato, três questões devem ser levadas em conta: por um lado, é ético excluir um clandestino com base em uma troca ambígua, já que não sabemos exatamente se a frase "que ele(s) volte para a África ! foi dirigida ao deputado que falou na tribuna ou aos migrantes?

Por outro lado, essa exclusão foi atribuída ao comportamento real que deveria ser sancionado? Por fim, essa ambiguidade, se validada como um método adequado de exclusão, não poderia no futuro ser usada para excluir não clandestinos, mas contribuintes para o bem comum (o que a pesquisa designa como “punição anti-social”, em oposição à sanção altruísta)?

De adversário a inimigo

A intervenção do deputado RN faz parte de uma estratégia bem estabelecida e conhecida na política, também aplicado por outros políticos, que consiste no desejo de transformar um adversário em inimigo.

Um inimigo não tem identidade precisa, encarna e se mistura em uma categoria. É por isso que qualquer um pode se tornar um inimigo, porque basta desumanizá-lo para combatê-lo, às vezes a ponto de aniquilá-lo. Um adversário, por outro lado, é alguém reconhecível, cuja identidade e também personalidade são conhecidas. Um oponente é respeitável, o significado da relação com o oponente não é aniquilação, mas simplesmente vencer na competição.

Se recortarmos a frase que é comunicada aos parlamentares presentes e, com eles, à comunidade que pode assistir ao debate democrático de forma diferida, verificamos que duas possibilidades de interpretação são oferecidas simultaneamente a quem ouve as declarações: vezes, que o deputado da Nova União Ecológica e Social Popular (nupes) que fala na Assembleia Nacional regressa a África, por ser negro, ou porque para lá regressam migrantes.

A frase é, oralmente, indistinguível em sua finalidade, e as duas possibilidades podem ser apreendidas simultaneamente pelo ouvinte, gerando justamente uma ambiguidade interpretativa sobre a identidade do sujeito ao qual a frase realmente se refere: é dele? Ou ele está falando sobre eles?

Pode-se perguntar se o objetivo era então comunicar sua posição política de forma aberta (sem possibilidade de mal-entendidos), ou melhor, enviar um sinal de sua posição política, agindo de forma não concreta, ou seja, tendo em mente uma propósito que acaba no mundo real (o retorno à África), mas de forma abstrata, ao criar uma comunicação que entra em curto-circuito.

Como os Verdurins descritos por Marcel Proust em Em busca do tempo perdido, enviamos um sinal quando "não agimos, mas fazemos um sinal". Não se trata, portanto, de entrar numa relação espontânea e direta que acaba no mundo real, mas de fingir: “Nada de engraçado se diz em casa da sra. Verdurin, e a sra. Verdurin não está rindo; mas Cottard faz sinal de que está dizendo algo engraçado, a sra. Verdurin faz sinal de que está rindo”.

Ao contrário dos Verdurins, porém, que se contentavam em afirmar a exclusividade e a superioridade de seu clã social, esse sinal enviado pelo deputado do RN inicia uma construção de conhecimento comum do ódio ao inimigo, ao permitir que a ambiguidade substitua uma explicação clara entre adversários.

Essa ambiguidade só toma forma se for notificada pela outra pessoa, que fica presa ao entrar no jogo de atribuição de identidade (ela está falando dele? interpretação ambígua, exatamente como os deputados do Nupes ficaram presos.

Iniciar um debate imediato

Onde deveria ter havido debate e diálogo democrático e, portanto, explicações imediatas, houve um monólogo, seguido de silêncio, cuja importância não era esclarecer seu ponto de vista. O propósito era ambíguo, mas não o sinal. A placa era claramente um comportamento de carona: diante do bem comum que é o da democracia, o deputado do RN teve um comportamento de carona que prejudicou o bem comum.

O deputado do RN deveria, portanto, ter sido excluído por quebrar o comportamento democrático, baseado em uma linguagem comum, e, portanto, por um ato de clandestinidade, além do conteúdo racista de sua mensagem. Ao excluí-lo apenas para comentários racistas “ambiguamente”, o evento poderia servir como jurisprudência. De fato, se mostrarmos que a maioria dos indivíduos toma sanções altruístas e pune aqueles que não contribuem o suficiente para o bem comum, também existem situações de punição anti-social em que os contribuintes são sancionados por indivíduos que não suportam não ver os outros fazendo Boa.

Além disso, os indivíduos se escondem atrás das probabilidades, como mostramos em um artigo de pesquisa. No entanto, assim que houver uma probabilidade, eles a aproveitarão para mascarar seu comportamento não contributivo. E assim os próprios clandestinos podem criar situações deliberadamente ambíguas e punir os contribuintes no mero precedente de ambiguidade, que pode servir de justificativa, e destruir para sempre o bem comum.

As palavras do deputado RN constituem, portanto, uma armadilha e infelizmente os deputados do Nupes caíram nela. Mas como evitar que tal armadilha de transformar o adversário em inimigo aconteça? Como garantir que o sinal não seja notificado? Teria sido necessário iniciar um debate imediato e devolver a bola ao deputado do RN para pedir uma explicação e responsabilizá-lo por suas palavras imediatamente (e não demorado, como foi feito). Ao interromper a troca, os deputados do Nupes assumiram a responsabilidade no lugar do deputado do RN que criou a ambiguidade.

Eleonora Montagner, Professor Associado de Filosofia, Escola de Negócios da Borgonha et Ângela Sutan, Professor de economia comportamental, Escola de Negócios da Borgonha

Este artigo foi republicado a partir de A Conversação sob licença Creative Commons. Leia oartigo original.

Imagem: Jacky D / Shutterstock.com


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