
A marca de 100 mortos após chuvas torrenciais no nordeste do Brasil foi ultrapassada na terça-feira, quando equipes de resgate encontraram 106 corpos após enchentes e deslizamentos de terra que devastaram a região do Recife.
O governo do estado de Pernambuco, do qual Recife é a capital, havia contabilizado 100 mortos em seu relatório anterior, pela manhã.
Mas um novo comunicado enviado à tarde anunciou que seis corpos foram encontrados em duas das áreas mais afetadas.
Oito pessoas continuam desaparecidas e mais de 400 bombeiros continuam mobilizados para as buscas.
"Essas buscas continuam ininterruptas até que todas essas pessoas sejam encontradas", disse Humberto Freire, chefe da Defesa Civil de Pernambuco, citado no comunicado.
No Jardim Monteverde, na divisa entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, onde várias dezenas de pessoas foram soterradas por um deslizamento de terra, as buscas foram encerradas, tendo sido encontrados os corpos das três últimas pessoas desaparecidas na quarta-feira.
Mais de 6.000 pessoas na região do Recife perderam suas casas e tiveram que ser acomodadas em estruturas de acolhimento, segundo o último relatório das autoridades.
O estado de emergência foi decretado em 24 municípios de Pernambuco.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro sobrevoou as áreas inundadas na segunda-feira e o governo liberou um empréstimo de 1 bilhão de reais (cerca de 198 milhões de euros) para ajudar as vítimas.
O chefe de Estado tem sido criticado por ter declarado que este tipo de desastre é “coisas que acontecem”, depois de uma tragédia semelhante que vitimou 233 pessoas em Petrópolis, perto do Rio de Janeiro (sudeste), em fevereiro.
Outras inundações mortais ocorreram no final do ano passado na Bahia (nordeste), depois em janeiro no sudeste, nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado, choveu o equivalente a 70% do que normalmente se espera para todo o mês de maio em algumas regiões de Pernambuco.
O especialista em desastres naturais José Marengo disse à AFP que as chuvas excepcionais se devem ao aquecimento global, mas são sobretudo mortais devido à urbanização descontrolada.
“A chuva em si não mata. O que é mortal é a chuva em casas localizadas em áreas de risco”, explica o coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais do Brasil (CEMADEN).
Segundo ele, as autoridades são "culpadas" por terem "permitido a construção em áreas de risco, onde vivem populações pobres que não têm para onde ir".
O Conselho Editorial (com AFP)