Brasil: Jair Bolsonaro quebra silêncio e autoriza transição com Lula

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A transição com Lula está em andamento na quarta-feira no Brasil, depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro, emergindo de um longo silêncio de dois dias, prometeu respeitar a Constituição, sem, no entanto, reconhecer explicitamente sua derrota contra seu oponente de esquerda.

“Enquanto for Presidente da República, continuarei a respeitar a Constituição”, declarou o Chefe de Estado na terça-feira em tom marcial. Ele falou durante um discurso de dois minutos no Palácio da Alvorada, em Brasília, recusando-se a parabenizar o vencedor da eleição presidencial.

Antes de sua declaração, no entanto, os microfones captaram algumas palavras dele seguidas de um sorriso: “Vamos sentir falta deles”.

"O presidente me autorizou, de acordo com a lei, a iniciar o processo de transição" com a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, disse seu chefe de gabinete Ciro Nogueira.

Jair Bolsonaro, 67 anos, também criticou parcialmente os bloqueios erguidos por seus apoiadores que protestavam contra a vitória desde domingo.

“Manifestações pacíficas serão sempre bem-vindas, mas não podemos usar os métodos da esquerda, (...) que impedem a liberdade de movimentos”, lançou.

No entanto, alegou que essas manifestações foram “resultado da indignação e de um sentimento de injustiça em relação à forma como o processo eleitoral foi conduzido”.

A Suprema Corte, garantidora da Constituição, rapidamente tomou nota deste discurso em um breve comunicado à imprensa: “Ao ordenar o início da transição, (o presidente) reconheceu o resultado final da eleição”.

O Supremo Tribunal, com quem o Chefe de Estado mantém relações conturbadas desde o início do seu mandato, também “salientou a importância de garantir a liberdade de circulação em relação aos bloqueios de estradas”.

Jair Bolsonaro então se reuniu com vários magistrados do Supremo, incluindo Alexandre de Moraes, que está liderando várias investigações envolvendo o líder de extrema-direita e seus aliados.

Bolsonaro "disse 'acabou'", referindo-se à eleição, disse o magistrado Luiz Edson Fachin, após essa reunião que não estava na pauta oficial.

Lula na COP27

Primeiro presidente brasileiro a fracassar na tentativa de reeleição, Jair Bolsonaro foi derrotado no domingo pelo ícone da esquerda (50,9% contra 49,1%).

Muitos chefes de Estado estrangeiros parabenizaram Lula por seu terceiro mandato à frente do país, depois dos de 2003 a 2010. Ele tomará posse em 1º de janeiro.

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin foi nomeado nesta terça-feira coordenador da equipe de transição responsável pela preparação do terreno antes da entrega.

Essa equipe, que pode chegar a 50 pessoas, terá acesso às contas públicas e poderá elaborar os primeiros decretos que serão promulgados pelo novo presidente após sua posse.

A equipe de Lula quer que o processo de transição comece "a partir de quinta-feira", disse nesta terça-feira Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), cofundado por Lula.

Viagens ao exterior também estão planejadas antes de ele assumir o cargo. Convidado pelo Egito, o presidente participará da COP27, que começará no domingo em Sharm el-Sheikh, anunciou Hoffmann.

Durante o longo silêncio de dois dias do chefe de Estado, o movimento de protesto nas principais estradas se espalhou e os pedidos de apoio se multiplicaram em contas pró-Bolsonaro no Twitter e no Telegram, apurou a equipe de investigação digital da AFP.

Em várias partes do país, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.

Ele encerrou 490 bloqueios nas últimas horas, mas 191 bloqueios parciais ou totais persistiram, de acordo com um relatório divulgado na noite de terça-feira por volta da meia-noite.

Chamadas para demonstrar 

Não foi possível na noite desta terça-feira estimar o impacto das declarações de Jair Bolsonaro na continuidade do movimento de bloqueio. No entanto, muitas mensagens circularam à noite nas redes sociais pedindo manifestações na quarta-feira, feriado no Brasil.

A capital Brasília ficou tranquila após as restrições "preventivas" de acesso à Praça dos Três Poderes, onde ficam o Palácio do Planalto, o Parlamento e o Supremo Tribunal Federal.

Em São Paulo, circulava na quarta-feira um chamado para "a maior mobilização da história" na Avenida Paulista, invadida na noite de domingo por centenas de milhares de torcedores de Lula.

O Conselho Editorial (com AFP)

Crédito de imagem: Shutterstock / Ettore Chiereguini

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